Brasileiros

Amarildo à moda argentina: o desaparecimento do artesão Santiago Maldonado

Página B - Mundo

Mais de vinte dias se passaram e ainda não há notícias de Maldonado, pego pelas forças policias em uma manifestação e desaparecido desde então
Felipe Campos Mello
Publicado em: 22/08/2017 - 19:44Alterado em: 26/10/2017 - 13:10

A história dos países latino-americanos parece seguir uma linha comum. Em meados do século passado, a ascenção de regimes autoritários na América do Sul se suscederam em um curto período de tempo. Nos últimos anos, foi possível observar, quase como em um roteiro, gestões desenvolvimentistas de centro-esquerda dando lugar a políticos conservadores e defensores de uma economia mais liberal. O episódio mais recente destas coincidências entrelaçadas foi o desaparecimento do jovem artesão Santiago Maldonado, de 27 anos.

Santiago foi visto pela última vez no dia 1º de agosto, quando, segundo testemunhas, foi agredido e carregado para dentro de um veículo da Gendarmaria, a Força Militar do Governo argentino, durante protesto realizado por uma comunidade de índios Mapuche, que reivindicava terras em Chubut, província localizada na Patagônia argentina. Já são mais de vinte dias sem notícias de seu paradeiro, mas a pressão popular nas ruas de Buenos Aires e outras cidades locais só tende a aumentar.

A falta de explicações do poder público e os estranhos fatos que permeiam o sumiço do jovem lembram o caso do brasileiro Amarildo de Souza, ajudante de pedreiro torturado e assassinado por policiais militares das UPPs do Rio de Janeiro em 2013.

A pressão da sociedade civil sobre as autoridades também ganha pontos de semelhança nos dois episódios. Nas últimas semanas, o desaparecimento de Santiago ganhou dimensões populares enormes que colocaram o governo argentino contra a parede. No dia 11 de agosto, por exemplo, milhares de pessoas foram até a emblemática Praça de Maio, em Buenos Aires, para protestar contra o ocorrido e cobrar respostas do Estado.

Que a comunidade argentina saiba que temos um desaparecido na democracia do senhor Macri.

Organizações internacionais, como a Interpol e a Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH), também se pronunciaram sobre o caso e exigiram investigações por parte do Governo. Em contrapartida, membros do Ministério de Segurança argentino, órgão responsável pela Gendarmaria, pouco se pronunciaram.

A ministra de segurança, Patricia Bullrich, acusada pela família do jovem Maldonado de negar seu paradeiro forçado, se manifestou e pediu que a Gendarmaria não seja estigmatizada, pois o caso ainda está sendo investigado. O presidente Mauricio Macri só se posicionou às vésperas da manifestação, afirmando que o Governo está tomando providências para entender o ocorrido. Ele também acusou os Mapuche de não ajudarem nas buscas e disse que os indígenas são "pouco democráticos e bastante violentos".

Organizadores da manifestação na Praça de Maio, entretanto, rebateram Macri, dizendo que os Mapuche não atrapalharam as investigações e que “por razões culturais e medos fundados na perseguição que vêm sofrendo, [os mapuches] se negaram a permitir drones sobre seu território e o rastreamento sobre lugares que consideram sagrados”.

Ao argentino Página 12, Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, movimento que luta pela memória dos desaparecidos durante o regime ditatorial do país, alertou: "Que a comunidade argentina saiba que temos um desaparecido na democracia do senhor Macri".

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