Arte - Idéias e Provocações
- Editorial da revista

Jaime Lauriano, um dos artistas ganhadores do Prêmio Marcantonio Vilaça, conta sua historia, nesta edição, para Mariana Tessitore, a história de um jovem negro brasileiro: “Eu morava com a minha mãe de favor na casa de um tio. Ela trabalhava muito. A imagem que mais tenho desse período é dela cansada”... “Tudo que eu queria era sair dessa situação. E para isso havia duas saídas: o estudo ou o crime”. Lauriano começou a frequentar museus e entre suas visitas, viu uma obra do Artur Barrio, o Livro de Carne, que o marcou profundamente. Ele resolveu estudar arte. Entrou em contato com artistas e teóricos. Cursou a faculdade de Belas Artes e hoje, quinze anos depois, é um artista reconhecido e que usa seu trabalho para contar a historia da escravidão no Brasil, entre outros temas.

Capa da quadragésima edição de ARTE! Brasileiros
Longe de ser melodramática, essa historia confirma que a arte é mediadora no sintoma do mal-estar social. Como lembra a curadora Michelle Sommer que, junto ao Gabriel Pérez-Barreiro, são responsáveis em Madri, pela mostra sobre Mario Pedrosa, um dos maiores críticos de arte e intelectuais brasileiros. Pedrosa dedicou seus esforços na formulação de ideias sobre a função social da arte ao longo de toda sua produção intelectual... Está em Pedrosa uma aspiração social libertária que busca uma revolução da sensibilidade para a revolução dos homens, de forma experimental e livre, estruturada a partir da fluidez dos vasos comunicantes entre arte e política, conectadas para um porvir plural”. Esta edição está marcada pela presença da arte, tanto no Brasil como no mundo inteiro, como veículo de expressão da repetição da violência contra as diferenças e o quanto o ódio racial está colocado na ordem do dia no mundo inteiro.
Bienais, a documenta 14 em Kassel e Atenas, a mostra A terra inquieta em Milão, Frestas no Sesc, trazem em uníssono a questão da luta do homem pela defesa de territórios, contra a cegueira frente ao outro, ao diferente.
Produzir esses gritos não resolve mas, sem dúvida, ajuda a cerzir um espaço de liberdade e especial beleza, que o diga a instalação de Francis Alys, Don’t cross the Bridge Before You Get to the River (2008), onde o artista criou, numa colaboração com crianças de Tanger, no Marrocos, e Tarifa, na Espanha – os dois lados do estreito de Gibraltar, o canal que separa África e Europa por apenas 13 quilômetros em seu ponto mais curto –, barcos de sandália de plástico com o objetivo de construir uma ponte humana entre os dois continentes, “uma ação que trata mais de esperança do que realidade”, nas palavras do nosso colaborador Fabio Cypriano.
Leia as reportagens de ARTE! Brasileiros no páginaB!:
Documenta foi “revigorante” para cena artística grega
Münster reafirma importância da obra em seu contexto
Pelas Frestas da Trienal de Arte de Sorocaba
Jaime Lauriano e a desmistificação da democracia racial
Triennale di Milano recebe mostra sobre migrações que vai além da arte
Um centro cultural de múltiplas vocações
Olhares sobre Mário Pedrosa: uma exposição em Madri
Mostra no Sesc 24 de Maio retrata contradições de SP
O salto no abismo: a aventura de Leonilson