Página B - Brasil

É a segunda denúncia contra o Temer. São R$ 51 milhões no apartamento do Geddel. E ainda tem o companheiro Palocci falando que entregava dinheiro nas mãos do Lula.
São 96% dos brasileiros que confiam pouco ou não confiam na Presidência da República. É 92% da população que acredita que a justiça trata melhor os ricos do que os pobres. E apenas 2% que confia muito nos partidos políticos.
Já teve golpe, já teve Copa, já teve Olimpíada, já teve tudo. E o Brasil ainda não conseguiu sair do mar de lama tóxica que a vale despejou no coração do País, num rio que já foi doce, mas que hoje é morte.
Em terra de desesperança, há uma única luta possível: liberdade para Rafael Braga - um ex-catador de materiais recicláveis que reflete em seu corpo uma política violenta, racista e punitivista.
Único condenado nas manifestações em junho de 2013, ficou preso injustamente por mais de três anos por portar desinfetante Pinho Sol e água sanitária, com a alegação de que pretendia fazer coquetel molotov.
Por isso, Rafael Braga é símbolo máximo de um Brasil mata 60 mil pessoas por ano, encarcera 600 mil cidadãs e cidadãos em presídios desumanos e vive uma falsa superação da escravidão, da ditadura e do colonialismo.
Por isso que se comemora tão pouco: um habeas corpus para que Rafael Braga fique preso em casa até que termine de tratar a tuberculose contraída no presídio é uma das melhores notícias em muito tempo.
É uma notícia melhor que junho de 2013, pois junho de 2013 só tem um legado a se respeitar se Rafael Braga estiver livre. Não existe um novo ciclo de lutas com racismo institucional, com encarceramento em massa e com indiferença às injustiças.
Mais que isso, entender e dar a importância devida à Rafael Braga e às jornadas de junho é fundamental para compreender as ocupações de escolas em todo o Brasil em 2015 e 2016, o movimento feminista e seus levantes e o surgimento de coletivos auto-organizados nas periferias.
Não são “novos sujeitos”, como certos acadêmicos tentam rotular. São lutas históricas, mas que agora ganham novas estratégias: se apropriam das tecnologias de comunicação, apostam em uma disputa potente de valores estéticos e se organizam de forma muito menos vertical e autoritária.
São essas experiências que precisam reinventar a luta social no Brasil. É inadmissível que as direções de movimentos sociais e partidos políticos que se dizem de esquerda ainda sejam compostas quase sempre apenas por homens, brancos, heterossexuais e ricos.
Não estou falando aqui de uma questão simplesmente identitária, é muito maior que isso: é sobre o impacto da falta de representatividade nas pautas que disputamos, diminuindo a importância dos novos ativismos e suas potências, da tecnologia e de sua disruptividade, da arte e seu poder.
Liberdade para Rafael Braga é o único remédio para um país doente.