Alfredo Volpi, 'Bandeiras e mastros', década de 1970.

Ao mesmo tempo que fascinava – e continua a fascinar – europeus em exposições e feiras pelo continente, Alfredo Volpi não é esquecido pelos espaços brasileiros. Desta vez, o artista ítalo-brasileiro tem 33 obras exibidas no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). A mostra, que se estende até o dia 1° de julho deste ano, é um dos frutos do grande esforço que a gestão do museu tem feito ao lado de parceiros para driblar a crise orçamentária.

A exposição só foi possível, de acordo com Zivé Giudice, diretor do museu, pela ajuda de parceiros e colecionadores que se uniram para trabalhar em uma força tarefa que fez o recolhimento e o transporte das obras até a Bahia. “Existe um flerte entre Volpi, a Bahia e este museu desde os anos 40”, afirma Zivé, sustentando seu argumento na posterior doação feita da obra Casas, na década seguinte, para o acervo da instituição. A iniciativa foi do crítico de arte Theon Spanudis e, para Ladi Biezus, que assina texto crítico da exposição, a atual mostra também cumpre o papel de comemorar mais de cinquenta anos da doação.

Tratando a exposição como uma retrospectiva, Zivé diz-se satisfeito por sediar algo digno do artista: “É uma retrospectiva que começa nos anos 40, passa pela incursão do figurativo e depois começa o surgimento da poética geométrica”, afirma. Para ele, o trabalho do curador Sylvio Nery reune “belos exemplares de pinturas que representam muito bem cada época de Volpi”.

O repertório do artista nascido na Itália, mas radicado no bairro paulistano no Cambuci, desde as fachadas às famosas bandeirinhas tem sido linha de várias exposições que ele tem ganhado ao redor do globo. No final de 2017, ganhou sua primeira individual em uma galeria estadosunidense. Neste ano, já foi alvo de exposições em Mônaco e na tradicional galeria Sotheby’s, em Londres. “O mundo começa a descobrir Volpi”, destaca Zivé.

A primeira atividade artística de Volpi data de 1914, quando tinha apenas doze anos de idade. Apesar disso, a pintura começou a fazer parte de seu cotidiano só na década de 30, tendo como base as suas observações de paisagens e construções da vizinhança onde morava. No final dessa década, começou a pintar aquilo que, historicamente, viraria a sua marca na arte. Mesmo fazendo parte de uma geração que se desenvolveu em um momento modernista, Volpi se desvinculou dos rótulos de movimentos artísticos impostos pela crítica.

Desta forma, é objeto de desejo de muitos colecionadores, tendo sido muito disputado em leilões na Europa atualmente. No Brasil, suas obras se espalham por coleções ao longo de todo o país. Para que a exposição no MAM-BA fosse realizada, foi necessária a contribuição desses colecionadores. Marcelo Xavier, Roberto Oliva, Marcos Amaro e Leonardo Telles são alguns desses nomes que se dispuseram a colaborar. Além deles, é preciso destacar a dedicação do galerista Paulo Darzé e da galeria paulistana Almeida e Dale em todo o processo, fazendo o intermédio entre o museu e os colecionadores.

A participação do Instituto Alfredo Volpi, presidido por Pedro Mastrubuono, também foi crucial para a realização da mostra. “Sucesso nos USA e Europa, mas sem jamais esquecer o público brasileiro”, destaca Mastrobuono em uma rede social. Segundo Zivé, as parcerias com esses nomes tornam-se importantes à medida que as instituições de arte brasileiras têm sofrido com a crise: “A cultura sempre padece por isso, mais que os outros subsetores da sociedade”.

Estado de espírito

No Museu de Arte Moderna da Bahia, a exposição de Afredo Volpi integra um projeto que foi denominado Estado Bienal. A medida é uma forma encontrada pela gestão da instituição para realizar, de alguma forma, a função que a Bienal da Bahia costumava cumprir. Depois do fechamento da II Bienal baiana em 1968, por ação da ditadura militar embasada-se no AI-5, o evento só voltou a acontecer 46 anos depois, em 2014. Sem recursos para continua-la, ainda não há previsão de quando a quarta edição será acontecerá. Desta forma, o MAM-BA resolveu integrar todos os projetos do museu no rótulo Estado Bienal. “Decidimos que tudo o que fosse produzido pelo museu ou demandado do museu fosse feito dentro da perspectiva desse lugar de gestação de ideias e de conteúdo”, pontua Zivé.

Para os próximos meses, o MAM-BA prevê uma mostra que irá reunir o que Zivé chama de Geração 70 da arte baiana. Para ele, é uma geração espontânea que “começa a construir um lugar da arte atual” no estado. Estão sendo cotados nomes como Bel Borba e Vauluizo Bezerra, sergipano radicado na Bahia.

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